Eu
não sinto falta do tempo em que éramos só nós e o André. Igor nasceu para
completar nossa família e, sem falsa modéstia, para adicionar uma boa dose de
beleza no quarteto familiar. E doçura. E carinho. E espirituosidade.
Do
que eu sinto falta mesmo é de estar só com o André. De fazer um programa só meu
e dele. Sinto falta de vê-lo com mais clareza, sem ter a poeira que o irmão
levanta embaçando meu olhar. Queria
senti-lo, conhecer suas escolhas tomadas independentes das do irmão.
Sei
que ele modificaria suas escolhas ou por birra e implicância, ou por companheirismo
e empatia com o irmão. Não quero a mudança, quero o que é genuinamente dele.
Tenho
uma péssima impressão de distanciamento. Do pouco tempo que temos juntos a sós,
mendigo uma conversa mais reveladora. A competição com os livros e com os vídeos
de futebol no youtube é acirrada. Não me dou por vencida sem lutar, mas na luta
me desgasto.
No
fundo vejo que ele sou eu. Quieto, revive seus dias para si. Os fatos e
sentimentos que experimenta são digeridos por ele mesmo. Só fala o necessário,
o que não chega nem perto do tanto que eu desejaria ouvir.
Apenas
em uma única ocasião precisei usar um fórceps para retirar um bebê que resistia
em nascer durante meu treinamento no curso médico. Agora, em outra escola, uso
fórceps todos os dias para arrancar do André as impressões que ele colhe em
suas horas.
Todos
os dias estamos juntos, almoçamos os 3 e jantamos os quatro. Mas mesmo assim
tenho saudades dele. Meio constrangido ele recebe meus abraços exagerados.
Aguenta por alguns poucos minutos e sai dizendo um “eu te amo” displicente
porém sincero.
Quero
um tempo só nós dois para que ele possa falar com detalhes do treino de futsal,
informar-me dos recados que vieram na agenda escolar e falar das peculiaridades
de cada colega da sala. Quero ter tempo para ouvir aquilo que só a mim ele
contaria.
São
só dois meninos que tenho e o bom mesmo é estarmos os quatro embolados. Mas
quero um tempo só com cada um para poder sentir o cheiro do cabelo deles. Quero
ouvir, com todos os sentidos, o que cada um tem a me dizer. Quero esbanjar
atenção a um deles vez por outra.
Queria
marcar um encontro com o André. Só eu e ele.
Iríamos
de bicicleta a alguma praça, falaríamos de e com alguns passantes, tomaríamos
um sorvete, comentaríamos o clima... E por sorte ele me revelaria qual a menina
mais bonita da escola.