Para mães divertidas, seguras, criativas, cheias de atitudes, atletas, donas de si, firmes, corretas e também para as mães que, como eu, não são tanto, mas são boas, intencionalmente boas mães.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Ser mãe é sentir frio na barriga.


Fiquei na espreita, como quem dá uma pausa no passo ligeiro e aguça os ouvidos.

Frio na barriga, sensação ruim. Algo ia acontecer.
A casa estava muito silenciosa mesmo com duas crianças dentro. Isso é um péssimo sinal.

Tentei livrar-me do pensamento ruim e continuei ajeitando o jantar dos meninos. Ouvi o barulho da televisão, deviam estar no quarto descansando das horas agitadas do dia. Ótimo.

Segui meu cronograma sem muita convicção. Tirando as comidas da geladeira, esquentando uma a uma. Porém, ainda com um incômodo.

Chequei o celular. Não havia nenhuma notícia bombástica e Fábio estava bem.

Resolvi ver os meninos. Estava tudo em ordem. Na verdade, eles estavam nos cantos de costume: André na rede lendo revistinha e Igor assistindo televisão de cabeça para baixo.

Voltei um pouco mais aliviada e continuei minha tarefa.
Pressagio, visagem, agonia. Seja lá o que fosse, estava estranho.

Sabem quando vemos que o copo vai cair antes mesmo do filho bater o braço nele. Ou quando ouvimos o choro antes da queda? Pois é. 

Não me refiro àqueles alertas meio vazios feitos muito mais pelo costume do que pelo perigo: “Desce daí”, “cuidado”, “presta atenção”...

Falo do sentimento, da previsão, da capacidade de antever.

Sei que todas temos essa habilidade, mas nos deixamos cegar pela correria do dia e pelo cansaço.

Anuncio que o jantar está pronto: Meninos, jantar servido!

Pá! Barulho alto. Choro forte!

Corro. Pego Igor nos braços com cuidado, procuro por algo mais grave e não encontro.
Respiro aliviada entendendo a angústia que sentia antes.

Vai ficar tudo bem...
_________________________________________________________________________________________________
Muitas vezes me pego chorando por angústias vividas. Sensação ruim em dias estranhos. Não tenho a pretensão de saber exatamente o que irá acontecer, mas rezo para estar presente.
Sei que muito de ruim ainda irá acontecer com meus meninos. É da vida. E dentro do “ruim” uma legião de possibilidades, cada uma com sua gravidade e desfecho.  
Que eu não perca a capacidade de sentir angústia. Falsa ilusão que serve de consolo em achar que com isso roubo um pouco da dor deles. Senão, pelo menos me faz saber que devo estar por perto.
Dentre outras coisas, é isso que a maternidade traz: frio na barriga.

Nenhum comentário:

Postar um comentário