Fiquei
na espreita, como quem dá uma pausa no passo ligeiro e aguça os ouvidos.
Frio
na barriga, sensação ruim. Algo ia acontecer.
A
casa estava muito silenciosa mesmo com duas crianças dentro. Isso é um péssimo
sinal.
Tentei
livrar-me do pensamento ruim e continuei ajeitando o jantar dos meninos. Ouvi o
barulho da televisão, deviam estar no quarto descansando das horas agitadas do
dia. Ótimo.
Segui
meu cronograma sem muita convicção. Tirando as comidas da geladeira,
esquentando uma a uma. Porém, ainda com um incômodo.
Chequei
o celular. Não havia nenhuma notícia bombástica e Fábio estava bem.
Resolvi
ver os meninos. Estava tudo em ordem. Na verdade, eles estavam nos cantos de
costume: André na rede lendo revistinha e Igor assistindo televisão de cabeça
para baixo.
Voltei
um pouco mais aliviada e continuei minha tarefa.
Pressagio,
visagem, agonia. Seja lá o que fosse, estava estranho.
Sabem
quando vemos que o copo vai cair antes mesmo do filho bater o braço nele. Ou
quando ouvimos o choro antes da queda? Pois é.
Não
me refiro àqueles alertas meio vazios feitos muito mais pelo costume do que
pelo perigo: “Desce daí”, “cuidado”, “presta atenção”...
Falo
do sentimento, da previsão, da capacidade de antever.
Sei
que todas temos essa habilidade, mas nos deixamos cegar pela correria do dia e
pelo cansaço.
Anuncio
que o jantar está pronto: Meninos, jantar servido!
Pá!
Barulho alto. Choro forte!
Corro.
Pego Igor nos braços com cuidado, procuro por algo mais grave e não encontro.
Respiro
aliviada entendendo a angústia que sentia antes.
Vai
ficar tudo bem...
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Muitas
vezes me pego chorando por angústias vividas. Sensação ruim em dias estranhos.
Não tenho a pretensão de saber exatamente o que irá acontecer, mas rezo para
estar presente.
Sei
que muito de ruim ainda irá acontecer com meus meninos. É da vida. E dentro do
“ruim” uma legião de possibilidades, cada uma com sua gravidade e desfecho.
Que
eu não perca a capacidade de sentir angústia. Falsa ilusão
que serve de consolo em achar que com isso roubo um pouco da dor deles. Senão,
pelo menos me faz saber que devo estar por perto.
Dentre
outras coisas, é isso que a maternidade traz: frio na barriga.
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