Para mães divertidas, seguras, criativas, cheias de atitudes, atletas, donas de si, firmes, corretas e também para as mães que, como eu, não são tanto, mas são boas, intencionalmente boas mães.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Que seja breve...


Criança doente. Criança bem pequenininha doente. Quem falaria sobre merecimento? Acredito que mesmo a fé que enche corações de tranquilidade e conformismo não se atreveria a aceitar. Aceitar sem dor no coração ou sem perguntas não respondidas.

O fato é que adoecem. As crianças bem pequeninas e as maiores. Deveria ter uma lei no céu em resposta a um abaixo assinado dos anjos pedindo que poupassem as crianças deste sofrimento. Não há dúvida de que mães e pais também sofreriam menos caso a  doença fosse neles próprios. Pois dor de filho é dor em dobro.

Aqui na UTI pediátrica sabe-se bem sobre sofrimento. Mas sabe-se da cura e do renascimento também. E essa é a força que move. Cateteres, fios, sondas e tubos em nome da cura, armas para uma guerra muitas vezes desleal. Incansáveis, os profissionais defendem-se atrás de gorros e máscaras, como quem esconde-se do medo e da insegurança de quem vive vendo a vida por um fio.

Vê-se pouco do pequeno menino indefeso. Coberto de cuidados. Manguito na perna direita, oxímetro no pé esquerdo, acesso venoso no braço esquerdo, monitores cardíacos no tórax, sonda orogástrica com fixação que cobre as bochechas já não tão rosadas como antes. Bandagem na cabeça para fixar os tubos de oxigênio em pressão positiva. Todo coberto, enroladinho para espantar o frio do ar condicionado e de todo o resto.

Sabe-se que daqui alguns anos ele estará correndo por ai, sem marcas nem lembranças do dia de hoje. Porém, caso queira  saber o que um dia aconteceu, é só ouvir a voz embargada e a retina marcada de quem um dia o viu assim.
Um dia para não ficar na lembrança, mas por teima e cisma, fica tatuado.

Agradecimento especial a minha grande amiga Melícia Aguiar, que aprendeu a  caminhar tão bem por esses corredores que dividem a saúde e a doença. Que parece caminhar sem máscaras ou gorros e que vê além do aparato que esconde a criança. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário