Para mães divertidas, seguras, criativas, cheias de atitudes, atletas, donas de si, firmes, corretas e também para as mães que, como eu, não são tanto, mas são boas, intencionalmente boas mães.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Coragem de mãe ( para saltar mais alto)


Sempre me inspiro em pessoas que mudam de rumo. Pra lá ou pra cá. Pessoas que fazem o que tem vontade, independente do tempo e da hora. Pessoas que acumulam desejos durante meses ou anos e finalmente se dão o prazer de realiza-lo. Que descobrem uma habilidade a muito guardada e finalmente explodem. Explodem no prazer de fazer o que sabem e gostam.

Isso me veio a cabeça ao olhar a orelha de Cinquenta tons de cinza, falando da autora E L James. Pessoa comum, que diz ter adiado o sonho de escrever para dedicar-se a família. Agora escreveu sua trilogia que atinge enorme sucesso. ( Sem querer julgar aqui méritos literários). Imediatamente penso em J K Rowling, e sua vida mais que comum até o fenômeno Harry Poter ser posto em palavras. Hogwarts por certo deveria ser um local secreto em sua mente, para onde ela ia para fugir do ordinário e criar seus personagens mágicos.

Pessoas que cuidam do sonho com carinho, adubam a mente e de repente afloram.
Penso nestas mulheres como boas mães. Não por renúncia ou desapego. Muito mais pelo exemplo que dão por terem descoberto e seguido um dom. Afortunados aqueles que sabem exatamente o que querem. Parece simples, mas saber o que quer é uma arte, e depois colocar este desejo dentre os primeiros na lista de prioridades exige imenso... Discernimento ( ainda tento achar a palavra certa).

Acima mencionei que admirava mudanças pra lá ou pra cá. Refiro-me ao outro lado da moeda. Profissionais bem sucedidas, já muito atentas aos dons e desejos, que voltam-se por vontade própria a família. Quase que como um chamado, atendem ao desejo de ficar mais tempo com os filhos.
Lembro-me do meu professor de neurociência. Tenho seu discurso guardado em canto seguro na minha memória.  Era a aula inaugural da disciplina mais temida da minha pós-graduação: Sinapses, e ele nos surpreendeu imensamente. Não falou de neurotransmissores e nem de correntes elétricas e sim sobre uma de suas orientandas que acabara de concluir o doutorado. Referia-se a ela como brilhante, esperta e estudiosa. Com um tom intencional de suspense em sua voz pergunta: Onde vocês acham que ela está agora? Todos pensamos que a brilhante aluna havia sido contratada pela universidade, tinha seu próprio laboratório e que essa era a moral da história: estudem e terão o que merecem. Provocando espanto e decepção em todos ele diz: - Ela provavelmente está inventando algo novo para brincar com seus filhos, fazendo supermercado ou escolhendo cuidadosamente o livro infantil para ser lido a noite.

Ele conseguiu, nos 15 minutos seguintes, nos convencer de que todo o brilhantismo de sua aluna durante o doutorado não foi em vão. De que conhecimento adquirido nunca é perdido e será sempre aplicado de alguma forma. De que nossa cara de decepção é completamente inapropriada uma vez que sua aluna fez bem o que se propôs a fazer e agora exerce uma outra tarefa ( ser mãe e cuidar de sua casa) com a mesma dedicação e empenho. De que caminhos existem, outros, e correm em paralelo e basta apenas um pouco de coragem e um pulo para mudar de rota, sem perder o que já foi caminhado.

Espantou-me a lucidez daquele professor. A astúcia de nos mostrar que, mesmo sendo exigidos ao extremo naquela disciplina, as horas de estudo não seriam em vão, fosse lá o caminho seguido dalí pra frente. Sabia ele que cada um de nós, com planos de correr por trilhas tão diferentes, tinha uma habilidade a ser descoberta, um sonho a ser perseguido. Tudo que ele queria era nos convencer de que sua disciplina “sinapses”, nos enriqueceria, independente dos desfechos de cada um .
Como ele mesmo disse: Sua aluna deixou uma brilhante carreira de lado, para seguir outra, igualmente brilhante, ser mãe de meninos sortudos. ( pela mãe que tinham)

Pra lá ou pra cá. Mudança para se fazer o que quer é muito bom. Fazer com habilidade e presteza. Descobrir, dentro e fora da maternidade, o que deseja.
A maternidade em si exige sua posição na lista de prioridades, mas a ordem dentre os primeiros da lista não é imutável. Infelizmente, é inegável, quando um sobe o outro desce e vamos fazendo esse jogo, tentando da melhor forma possível ordenar maternidade, vida profissional e o sonho guardado quietinho.
Que em 2013 possamos dar muitos pulinhos de lá pra cá, caminhando cada estrada com carinho. E que o sonho, qualquer que seja, possa se fazer ouvir e quem sabe pular mais alto para o topo da lista por algum tempo.
Um saltitante ano para todos!

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